Trechos

Sobre odes, pré-ódios e sentimentalismos vãos

Contava histórias repetidas com fundo verdadeiro. Não acreditava muito em todo o brilho que surgia no decorrer das linhas, mas já não conseguiria fazer diferente. Falando de si mesmo achava que esqueceria e seguiria adiante. Haviam lhe dito que se escreve para lembrar e seguir adiante. Manteve sua teimosia habitual e discordou, mas ficou pensativo. Tinha poucos problemas, sabia ele, mas fingia ter a maior dor do mundo. Ouviu uma vez que deveria seguir o caminho com mais sentimento, mas gostava sempre do caminho com a maior dor. Sinônimos. Falava de si mesmo. Pessoas verdadeiras e fatos fingidos. O poeta dizia que era assim mesmo. Não sabia se concordava de todo, mas fazia o mesmo. Tentava pré-odiar muitas coisas. Andava cansado, mas com paciência. A maior paciência do mundo. Perguntavam pra quem escrevia e dissimulava dizendo ser para a poesia os o odes sobre sentimentalismos vãos. Recebia sorrisos amarelos de descrédito, enrubescia e apenas baixava aba do chapéu para disfarçar a tristeza nos olhos e o aperto no coração.

Piadas cansadas e gozos suprimidos e histórias invertidas

E acabava por sacrilégios e desencontros premeditados. Brincava que a distância era pouca, mas afastava. Pensava que a cama salvaria, mas não sabia. A piada? Perdeu a graça.
De vez em quando ainda sonhava com aquele dia em que tu me trouxeste tanto lirismo, melancolia e trocamos pessimismos. Diziam-me para esquecer. E eu fingia que sonhos eram tolices. Dissimulava a tal ponto que fizeste, da minha representação, verdade.
Mentia para eu mesmo ser mais um blablablá típico de encontros de velhos amigos. Guardava o meu encanto e buscava banalidades. Te procurava em outros copos, outras camas. Eu ria do que tu falavas, mas não escutava. Tu gesticulavas e idealizavas o mundo. Eu achava tão bobo. Eu achava tão bonito.
Sempre te prometia visitas e tu dizias que me esperaria na rodoviária. Perdia o ônibus e o próximo, eu imaginava, que nunca viria. De uma viagem inesperada, domingo ensolarado e conversas prorrogadas, tu me esperava com um livro qualquer nos braços. Não me importava. Olhos de diamante e eu disfarçava o encanto.
Ríamos e dizíamos que nosso encontro seria na cama. Eu sabia que não fazia teu tipo, mas não deixaria de ilusionar. Perdíamos horas, à distância, aumentando egos e esnobismos típicos de primeiras conversas. Ilusionávamos planos e fazíamos grandes piadas de tudo.

Metalinguística

Para escrever um poema,
pensava sobre o maldito tema
que o tornaria uma obra ímpar.

Sempre tentava falar de amor
que nunca consegui não aliar a dor,
mas, dessa forma, esse era sempre tratado.

Outrora falava de mim,
das minhas frustrações em encontrar um fim
acabei me cansando.

Banalidades já foram ditas,
por vezes até escritas,
mas sempre me impressionaram.

Busquei inspiração no Bandeira,
de minha autoria só saiu asneira
e eu seguia no meu impasse.

Recorri aos poetas estrangeiros,
não consegui nem alcançar seus cheiros
quem dirá poetizar.

Acabei me recostando no travesseiro
o sono me alcançou ligeiro
e a pena ficou de lado.